quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Campanhas de Pacificaçao I

breve nota: a primeira parte começou por ser um pequeno tributo a Mouzinho de Albuquerque, mas é-me agora impossível prosseguir sem aprofundar os acontecimentos que ocorreram em África nos finais do século XIX.


Campanhas de pacificação;

Marracuene

Embora Mouzinho tenha entrado nas campanhas de pacificação, fá-lo-ia já quase no final. Não será justo falar das campanhas em África sem falar de outros personagens, a mais importante talvez, a pessoa que concebe a campanha, António Ennes. Em 1894 - 95 António Ennes ocupa o lugar de comissario régio em moçambique. É neste ano (1895) que se da, após as campanhas, a ocupação "incontestada" de Portugal em África.

A principal missão de Ennes era a pacificação das terras da coroa, pois era suposto haver condições para obter controlo do rio Incomati (25° 56′ 51″ S, 30° 4′ 53″ E) mais a norte. tornou-se necessário controlar Marracuene, que é o principal ponto de passagem entre as duas margens do Incomati, no processo é também conquistada Anguane, a 2 de Dezembro de 1894 por uma companhia que sai de Lourenço Marques. o objectivo destas conquistas no lado direito do Incomati era encurralar os rebeldes entre a terra e a esquadrilha que patrulhava o rio. para isto foi necessário desguarnecer perigosamente Lourenço Marques. depois da vitoria de Marracuene a ocupação efectiva acelerou.

A coluna sai de Lourenço marques as 5h de segunda feira, do dia 28 de Janeiro de 1895 com cerca de 800 homens. depois de cinco horas em marcha a noite é passada em Anguane, no dia 29 prossegue-se e as 15h a coluna alcança Marracuene onde são avistados alguns grupos rebeldes que tentam atrasar a coluna. São trocadas algumas salvas de tiros que recebem respostas isoladas quando os rebeldes retiravam para a margem contraria do rio.










1 - António Ennes, Comissario Régio (1894 - 1895)


O bivaque é formado nessa noite em quadrado no alto de Messinga (com uma elevação com cerca de 20m). são instaladas peças de artilharia nos ângulos ou no meio das faces do bivaque. as duas metralhadoras são montadas em cima de carros que são colocados na face principal. são colocados postos de observação a 200m do assentamento compostos por combatentes nativos. a 2 de Fevereiro, pelas 4 da manha soa o toque de sentido, como era normal (este período antes do nascer do sol era dos mais escolhidos para ataques). pelas 4:25h soam tiros isolados na direcção dos postos, pouco depois surgem vultos na direcção do Incomati em que se distingue os uniformes Angolanos do batalhão de Caçadores Nativos. julgando-os praças Angolanas Ayres d'Ornelas da ordem para não disparar. quase ao mesmo tempo ressaltam tiros da escuridão sobre a face direita e esquerda. o problema surge na face da retaguarda para onde se dirigem as praças angolanas. chegam a face sem receberem tiros e mal podem atacam com azagaias, eram os rebeldes que tinham eliminado as praças dos postos e roubado os uniformes. falhas no reforço dos rebelde permite que os Portugueses reagrupem as forças, e sob comando dos oficiais as faces convergem e afastam "a grito e pontapé" as falsas praças angolanas. da-se uma grande confusão dentro do quadro defensivo, são utilizadas baionetas, espadas, azagaias e revolveres. os oficiais lutam para manter a moral e reorganizar as forças. já com o despontar de luz do sol, pela face esquerda surge uma massa maior de guerreiros que avança para os cavalos. num movimento rápido, improvisado e teatral, o oficial Roque Aguiar ordena uma esquadra do corpo de policia que fosse para a retaguarda e que se organiza a tempo de repelir o atacante. neste momento ja a maior parte dos "infiltrados" no quadro já estava morta e o restante tinha sido "corrido a murro e pontapé". o combate prolonga-se até as 6h da manha, e depois de algumas salvas de metralhadora e canisters a luta cessa. uma média feita por contas de cartuchos gastos mostra que a luta não terá sido intensa, cerca de 12 tiros por cada espingarda, 36 granadas. as baixas portuguesas são de 3 mortos e 6 feridos, os auxiliares angolanos perfazem 10 mortos e 19 feridos. a força dos invasores foi estimada entre 2000 a 3000 homens. este combate, mesmo tendo um balanço de forças mais equilibrado foi aquele que mais perto do desastre ficou. o raciocinio dos landins rebeldes foi como diria António José Telo, impecável. o seu erro foi não se concentrarem na retaguarda.
Analisando bem este combate, chegamos a conclusão de que, os Landins já esperavam os portugueses pela maneira como conseguiram, eliminar os postos de observação sem soarem o alarme e foi uma táctica que se apresentou mais vezes no futuro. os movimentos rebeldes mostram um excepcional comando superior. um aspecto notável do combate pelo lado português foi a capacidade de reconstrução da face desfeita do quadro, por onde teriam entrado até 20 nativos.

com a migração para norte dos rebeldes da região de Marracuene, a pacificação estava praticamente terminada, embora outros combates se seguiriam em 1895, até ao desfecho levado a cabo por Mouzinho de Albuquerque que ira ser contado em artigos posteriores.

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