terça-feira, 26 de maio de 2009

Arqueologia

Circus Romanus

umas semanas, foi-me atribuído o tema do Circo Romano, para apresentação numa aula de "Clássicas". É sabido que os Romanos tinham um gosto especial por jogos, aquilo que se chama os "ludi". Porém, nem todos estes jogos se passavam no famoso Coliseu, na realidade um grande anfiteatro (o maior) que obteve o seu nome do "Colosso", estátua gigantesca erigida por Nero, que anteriormente lá se localizava, mas que, foi destruída após a declaração de "inimizade" de Nero para com o povo Romano.
De facto, os "ludi" não aconteciam só no Anfiteatro. Uma das estruturas concorrentes era precisamente o circo, não como o que nós hoje conhecemos. O nome do Circo, provem de como se movimentavam os intervenientes na sua arena, em forma de "Circuito", circundando a arena, em contra-relógio.
Então para que servia o Circo? Que jogos lá tinham lugar? Bom, a sua função primordial, como pode ser visto no filme Ben-Hur, era servir de local para corridas de cavalos, mais precisamente de quadrigas, conduzidas pelo "Aurige". Mas, a concorrência que este edifício fazia ao anfiteatro não provinha só das corridas. Os edifícios lúdicos em Roma eram polivalentes. No Circo também figuravam gladiadores, que lutavam naturalmente entre si, ou, mais frequentemente contra feras (leões, tigres, crocodilos etc.), as chamadas Venationes, que também podiam ser entre "bestas" apenas. Tudo indica que estes eventos, alem de sangrentos eram grandiosos. registo de um naufragium simulado, no qual a arena era inundada (pressupunha uma arena estanque) e depois, uma embarcação era afundada, fazendo com que as feras se soltassem e lutassem entre si. Mas outros eventos, menos sangrentos tomavam luar no circo. era frequente o uso destas arenas para a passagem de procissões, algumas para celebrar vitórias militares, outras que cultuavam o imperador. Tendo uma arena bastante longa, era natural, que por falta de espaço, la fossem organizadas feiras ou demonstrações culturais (musica, leituras etc).








1 - Circus Maximus


O circo possui, uma planta bastante especifica. Com elementos recorrentes. Tomemos o exemplo do maior circo conhecido, o Circus Maximus de Roma. Este vai ser o protótipo para a imagem do circo espalhado pelo império.
No centro da arena, um elemento sempre existente era a Spina, murete que começou talvez por ser uma divisória de terra, simples, que criava um eixo, para que as corridas fossem sempre feitas no mesmo sentido, sem risco de embates frontais, pois cavalos e escravos para correr eram caros, e convinha não os perder. A Spina, naturalmente não será deixada de lado aquando da monumentalizarão. Seriam visiveis, ao longo da sua extensão obeliscos, troféus de guerra, pequenos tesouros... ofertas de figuras publicas ao povo Romano. Eram as metae, os dois elementos localizados em cada extremidade da Spina, que permitiam a contagem das voltas, estas estavam decoradas com três postes cilíndricos, de bronze, com topos cónicos.
A forma da arena era em "U" invertido. Ou seja, uma das pontas era semi circular, e a outra, quase rectilínea (com uma ligeira curva) encerrada pelo Oppidium, uma estrutura que incluía os cárceres, as portas por onde saiam os corredores, eram 12 ao todo, no meio destes cárceres (6 de cada lado) estava uma porta, monumentalizada em época republicana, a porta Pompae, por onde entravam as procissões. O Oppdium era depois ladeado por duas torres monumentais com estátuas no topo. O outro extremo, o semicírculo não era unido, era na realmente fechado por um arco triunfal, o arco de Tito, mandado fazer em celebração da vitória em Jerusalém.





2 - Oppidium a fechar o circo, maquete de Roma;



Por fim, outro elemento importante era a Cavea, que na verdade engloba as bancadas, as estruturas subterraneas, o podium (os melhores assentos, para os "VIP" por assim dizer), o Pulvinar (local reservado ao imperador, que se torna quase um templo imperial) e o templo do sol (que assinala a presença divina na arena). Do lado de fora, os acessos á cavea eram feitos por arcadas, e percorriam-se 3 galerias até se chegar ás escadarias que levavam aos Vomitorium (saídas para as bancadas). Nas galerias podiam localizar-se lojas variadas. O aspeco exterior do circo era de 3 andares. Poderia ter um aspecto baixo, mas a sua extensão nao deixava dissimular a sua importância, a importância do que o Dionísio de halicarnasso chamou "a mais monumental estrutura em Roma".
3 - Circus Maximus

domingo, 24 de maio de 2009

Encontros

Partida

O Vapor tinha acabado de zarpar. Estava uma manha de sol. O ar abafado abatia-se sobre o estuário. Aqueles que se debruçavam sobre a amurada sentiam o trepidar dos motores, que se esforçavam para empurrar a embarcação para fora do porto movimentado. Nas docas, já a uma boa centena de metros, podia ver-se as pessoas a dispersar, tinham vindo para se despedir dos entes queridos, alguns ainda acenavam, aproveitando os últimos segundos que tinham, até a costa desaparecer, e a metrópole ficar para trás. O ritmar mecânico das turbinas ecoava por todo o convés, como barulho de fundo. Olhando para cima, o rasto de fumo da chaminé arrastava-se, e dissipava-se, podendo-se adivinhar um pouco do trajecto feito.
O "Neves D'Azulia" não era o que se pudesse chamar um navio grande, era mais um vapor médio, com tamanho suficiente para entrar em portos coloniais pouco desenvolvidos. Levava cerca de 50 passageiros de primeira classe, e uns 100 da terceira. No convés, os Cavalheiros reuniam-se junto da amurada, discutindo futuros negócios a realizar assim que chegassem ao destino, ou então discutiam a vergonhosa derrota de "Mont Blanc" por meio pescoço no hipódromo, no qual muita gente honorável apostara dinheiro e perdera. Enquanto isto, fumavam as suas cigarrilhas, e se seguravam aos seus chapéus, para que não voassem com a brisa. Por outro lado, noutro canto do "Neves", a terceira classe juntava-se, para cantar em conjunto, ou brincar ao pião com os filhos, e contar-lhes histórias sobre o local para onde iam, do primo que de la escrevera a dizer que o trabalho compensava e que lhes arranjava estadia. Que o tempo era diferente do de Portugal, o calor era tremendo, as chuvadas fortes como se o céu estivesse a desabar. As senhoras da alta classe, essas descansavam nas espreguiçadeiras, com armações em madeira e assentos em pano de linho branco sujo. Abanavam os seus leques junto à cara, já adivinhando o calor que se faria sentir pelo caminho, tecendo juízos acerca da nova terra, e dos trabalhos prometidos aos maridos.
Na ponte, o capitão Carlos de Assunção conferia o livrete de navegação, as coordenadas e tudo aquilo que necessitava de supervisão. Era um homem experiente, marinheiro desde os seus 18 anos, aprendera a navegar nos antigos barcos a vapor. contava neste momento com 58 anos, tinha já uma espessa barba grisalha, e uma ligeira calvice, que, com a excepção de jantares e missas, ocultava com o seu Boné. Tinha um nariz pontiagudo, sobrancelhas grossas e uns olhos verde-claro. A cara estava queimada pelo sol dos trópicos. Fazia-o parecer mais velho. Tirou o relógio de bolso. Eram seis da tarde, mais minuto menos minuto. Quase hora de jantar. Saiu da ponte, desceu as escadas e dirigiu-se para o salão. A porta estava aberta, e algumas pessoas se encontravam sentadas nas bem "postas" mesas redondas. A mesa do Capitão era a central. Os lugares eram organizados por camarote. Numa mesa geralmente ficavam duas a três famílias, dependendo do numero de pessoas. Com o Capitão jantavam os mais ilustres e destacados passageiros. Estavam presentes nesta viagem, o cônsul Britânico Alfred Cossman e a sua requintada esposa Lisa Cossman, que coincidentemente era de origem Portuguesa. Podia-se também contar com a agradável presença de um reverendo, o idoso Abílio Santos, a caminho da missão em Goa, junto a este sentava-se o professor Carmino, escolar destacado para fazer, como disse o capitão orgulhosamente ao longo da viagem por mais que uma vez "o prestigioso trabalho de descrever, com exactidão cientifica, a situação climática que será sentida durante toda a viagem até Goa, para a sociedade Geográfica de Lisboa", jocosamente comparava a sua presença à de Darwin, e o "Neves" era comparado ao "Beagle".
"Meu caro professor, esse relatório vai resumir-se apenas aos aspectos climatéricos?" perguntou o Sr. Cossman. "Bom, espero que não, senão era bem capaz de ficar saturado. Não. Quando a questão tem a ver com geografia, há que tecer muitos outros comentários. Espero por exemplo, incluir aspectos relacionados com o comportamento do mar, e quem sabe, fazer uma descrição de fauna e flora das zonas costeiras, se me vir com tempo para isso."
O jantar nessa primeira noite fora servido. Depois da sobremesa e dos digestivos, os homens, como era normal, subiram ao convés para fumar os seus charutos. O tema de conversa era o normal, Jogos, Negócios... As senhoras saíram do salão e foram para os corredores do barco, onde, por entre as espreguiçadeiras se encontravam umas mesas pequenas, onde era servido chá ou café. Estava uma noite clara. Ao fundo, podia ver-se o reflexo da lua na ondulação fraca. No céu azul escuro, milhares de estrelas reluziam, enquanto que por barulho de fundo existia o remexer da água pelo "Neves" e um zunido proveniente dos motores. Um fechar abrir de portas, passos no convés. Murmúrios de quem passava... era uma noite animada. Estavam todos entusiasmados pela partida. Portugal já não estava visível, há muito que a costa ficara para trás. O "Neves" era agora um pequeno ponto luminoso no deserto oceânico. Sierra Leone ainda estava á distancia de algumas semanas. A embarcação era agora o domicilio dos passageiros que rumavam para as colónias, ansiosos por verem as novas terras.