segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Campanhas de Pacificaçao IV


Limpopo, as operações do centro;




Com o objectivo de consolidar as vitorias da coluna sul, é enviada, para o rio Limpopo, uma pequena flotilha fluvial e começam com a exploração do vapor "Ferreira Neves" em Junho de 1895. Em Setembro a lancha canhoneira "Capelo" é rebocada e recebe o armamento quando passa pela barra. Estas duas embarcações são apoiadas por outras duas, a "Fox" e "Carnarvon", que fazem ligação a Lourenço Marques. É assim composta a "esquadrilha do Limpopo"!



A 4 de Outubro a "Neves Ferreira" e a "Capelo" sobem o rio até Languéne onde o comandante Sá (da Neves Ferreira) convoca uma reunião do chefes e indunas da região. Aqui é apresentado um Ultimato. Em oito dias deveriam entregar os rebeldes Matijebana e Mahazul e submeter-se ao domínio português. Esta mesma mensagem é espalhada pelo comandante da Capelo em povoações da margem esquerda do Limpopo. O prazo passa, e após um reabastecimento em Xai - Xai os navios começam a retaliar em margens diferentes do rio, de Languéne para cima, 30 km, até onde era navegável.

O castigo consistia em "martelar" com metralhadoras as povoações ribeirinhas, após a qual se daria ao desembarque de parte da guarnição que incendeia as casas abandonadas. não havia tempo para concentrar forças e a resistência revelou-se fraca. a maioria dos raids restringiam-se á margem. a "Capelo" viu-se dificultada pelo caudal reduzido do rio que fazia com que encalhasse frequentemente.



É posto em terra, a 18 de Outubro, um destacamento com 36 praças, que abre o caminho até à povoação da irmã de Gungnhana, que foi incendiada e abandonada. em poucos dias incendiaram-se cerca de 120 populações e afundadas embarcações indígena.
- Lancha Canhoneira "Capelo";



Não se trata tanto de uma desculpa, mas de uma explicação, que o comissario régio dá para tais acontecimentos:
"Em qualquer país civilizado actos de guerra como estes praticados pela esquadrilha do Limpopo, alem de serem condenados pelos princípios humanitários e parecerem repugnantes a brios cavaleirosos, provocariam reacções violentas, reacções de ódio e vingança dos povos castigados pelas culpas do soberano; em África porem, não se manifestam tais reacções, porque só podem produzi-las noções elevadas de moral e sentimentos de justiça e de pundonor que falecem aos negros. as populações do Limpopo não se apertam em volta de Gungunhana para se vingarem com ele, nem sequer para lhe pedirem vingança; tratam de abandona-lo, desde que o reconheceram impotente para as defender" - António Ennes;

Esta afirmação não dever ser olhada com desdém, pois constitui uma visão da época. este torna-se o grande problema do Historiador e basicamente de qualquer outro estudioso e publico em geral, analisar as coisas pela ponto de vista das noções ocidentais do séc. XXI, tal como também faziam os ocidentais do século passado e dos séculos anteriores. Para mim é a analogia do "mundo selvagem". Quando um observador de vida animal vai para o campo, vai na condição de não interferir, pois não podemos mudar o rumo natural das coisas que acontecem na selva, ou na floresta porque temos pena de um pintainho que vai ser morto para alimentar uma raposa ou um Gnu que vai servir de alimento para um grupo de Hienas. o mesmo se deve fazer na historiografia. qualquer acto cometido no passado não deve ser julgado, mas avaliado e inserido num contexto. Por isso podem-me chamar insensível em não querer descrever o horror que sentiram as populações do Limpopo, mas a verdade é que não se trata de fazer uma historia do sentimento, mas uma historia da mentalidade e de acontecimentos. Neste caso o pintainho são os indígenas, a raposa é o império português, que fortalece a sua imagem aos olhos da Europa do séc. XIX.

Continuando e para finalizar, a 22 de Outubro já se vê o efeito das punitivas. uma serie de chefes da região apresentam-se nas margens do rio, acompanhados pela sua gente, desarmada, com intenção de abandonar Gungunhana e aceitar a soberania portuguesa. Só pedem que os portugueses os protejam de eventuais punições de Gungunhada pela troca de lados. dá-se uma pequena resistência na Ilha verde, mas no resto do Limpopo outros chefes seguirão o exemplo dos primeiros.
No dia 27 de Outubro surgem algumas forças de Gungunhana para manter a antiga vassalagem, mas são repelidas pelo fogo da Capelo. Este evento torna-se na mostra definitiva para os chefes da garantia de segurança por parte das forças portuguesas.

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