sábado, 8 de novembro de 2008

Campanhas de Pacificação VII

Chaimite...


Depois de arrasar o centro Vátua, António Ennes trata da consolidação da ocupação efectiva e a 15 de Dezembro de 1895 cria-se o Districto Militar de Gaza. A direcção deste é entregue a Mouzinho de Albuquerque.
A 9 de Dezembro recebe-se em Languéne informações sobre o paradeiro de Gungunhana. As informações confirmam-se no dia 13 de Dezembro quando a Languéne chegam 5 emissários de Gungunhana como prova de desejo de paz. Para tal entregam o rebelde Matibejana. Duas mulheres acompanham o régulo para o "verem morrer" pois era esperado que fosse imediatamente fuzilado. Contudo o comandante Sanches de Miranda manda-o prender.

1 - Foto de Gungunhana;

Ao tomar conhecimento, Mouzinho de Albuquerque desloca-se para Languéne, com intenção de Capturar Gungunhana e fechar na perfeição a campanha de 95.
Aposta-se na formação de uma coluna de 30 cavaleiros para surpreender o rei em fuga, mas torna-se impossível reunir o numero exacto de cavaleiros.

Mouzinho de Albuquerque sobe o Limpopo na lancha Capelo até à junção do Changane. Explora a região em redor e cria um novo posto, a uns 800 metros de um cais improvisado. Mouzinho pretende que este se torne a sede do Districto de Gaza. seria também o posto mais avançado da ocupação Portuguesa.

25 de Dezembro de 1895. Dia de Natal. Mouzinho de Albuquerque desiste de esperar pelos cavaleiros e organiza uma pequena força improvisada. As 5h do dia 26 a pequena coluna parte com 207 auxiliares e 76 carregadores e vai recolhendo auxiliares ao longo do caminho, que desejam ver o "afastamento" do antigo senhor. Nesse dia a força acampa em Zimacaze (as 16h) perto da junção do Limpopo com o Changane. Gungunhana esperava provavelmente a partida da coluna pois chegam enviados seus que entregam dentes de elefante e apresentam um pedido a Mouzinho:" Aguarde na Lancha pois o régulo vai dentro em breve prestar vassalagem aos
portugueses.















2 - Gungunhana e as suas Mulheres;

No dia seguinte Mouzinho manda soar a alvorada as 2h e 30. a coluna come uma refeição rápida. Mouzinho conta com 47 Europeus e mais ou menos 200 auxiliares e parte em marcha as 4h da manhã. As 11h chegam outros dois enviados com presentes mais significativos (560 libras e pontas de marfim). O rei está preocupado. Trazem outra mensagem. Pedem para esperar que o régulo viria nesse mesmo dia falar com "o Rei seu Pai". Responde Mouzinho que o régulo é "muito gordo" e ele "muito magro", para lhe poupar trabalho vai continuar a avançar. Depois de 9h de Marcha estão os Europeus esgotados, acampam então perto da lagoa de Motacame. Ainda nessa tarde chega uma delegação de Gungunhana em que estava incluído Godije, um dos seus filhos. Desta vez traziam 63 cabeças de gado, 510 libras, duas pontas de elefante e até mesmo 10 mulheres de Matibejana. Mouzinho responde que a sua coluna está cansada e que não avançará, esperando que o régulo venha ter ao acampamento. Mouzinho não tenciona cumprir isto.

A alvorada do dia seguinte é as 3h e a marcha as 4h!. Surgem então 3 mangas Vátuas a correr para a coluna, não atacando, mas com intenção de prestar vassalagem, e informam também que Gungunhana está em Chaimite. Era uma aldeia sagrada, com 30 palhotas, rodeadas por uma paliçada de Metro e meio. Gungunhana tinha lá ido para realizar rituais que lhe conferissem protecção divina.

São 6h e 30 da manha. É avistada a paliçada de Chaimite. A marcha foi tão extenuante que duas praças caem no chão, sendo deixados aos cuidados dos auxiliares.

A única entrada em Chaimite era uma porta com cerca de 40cm de largo, e só passava um homem de cada vez. Não havia conhecimento do que esperava os portugueses dentro da povoação.

É então que, o Capitão de Lanceiros I, Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque ordena que os auxiliares formarem cerco em volta da povoação e apenas com Portugueses, desembainha a espada e lança-se à carga à frente da coluna em direcção á porta da aldeia. Diz-se que o Tenente Costa e Couto lhe passa a frente e que, ao chegar a paliçada, derruba a porta, coloca-se em sentido e deixa que seja Mouzinho de Albuquerque o primeiro a entrar, foi seguido do Tenente Couto, o médico Amaral, Sanches de Miranda e do interprete indígena João Massablano. Dentro da Paliçada estava um grupo de Vátuas armados com espingardas e, nas palavras de Mouzinho: "ou fosse porque de todo tinham perdido a força moral, ou por verem logo atrás de nós a testa da coluna que derrubara as estacas laterais da entrada, é certo que nenhum fez fogo, deitando todos a fugir sumindo-se nas palhotas".
3 - Captura de Gungunhana;


No seguimento, dá-se a mítica cena, Mouzinho intimida o "leão de Gaza" a sair da palhota, sob ameaça de lhe pegar fogo. quando o Senhor sai sozinho e desarmado, Mouzinho manda que lhe atem as mãos. É declarado ex-régulo dos Mangúnis e obriga-o a sentar-se no chão, embora o régulo não quisesse por "estar sujo".

Em aplauso, os Vátuas batem com as azagaias nos escudos. Terminava assim o Reino de Gaza.
No retorno, a bordo da capelo no dia seguinte, nas margens em Languéne, auxiliares juntam-se para prestar vivas á Família Real, à Armada e ao Exercito!

O final dos "dois gigantes" foi dissemelhante. Gungunhana é levado para Lisboa e depois vive o resto da sua vida, com Matibejana e os seus filhos na Ilha Terceira, onde tinha liberdade de movimentos. Recebeu o nome de baptismo Reinaldo de Frederico Gungunhana. Morre em 1906 em Janeiro por causas naturais. Por seu lado Mouzinho regressa a Lisboa onde continua a sua vida, recebe comendações do seu Rei e amigo, D. Carlos. É mesmo escolhido como tutor do príncipe Filipe. Morre em 1902, num suposto suicídio, embora nunca se tenha feito a autopsia devida.

É-me incompreensível como nas escolas se estuda tão a fundo as conquistas dos nossos primeiros Reis, e tão pouco as conquistas dos nossos últimos Reis, que, embora estivessem fora do espaço Europeu, adquiriram estatuto de território Português!

Numa opinião pessoal, Vivam aqueles que, por amor à pátria, arriscaram as suas vidas, oficiais e praças incluídos, civis que os apoiaram e viva o espírito que fez com que, em finais do sec. XIX Portugal se erguesse de novo aos olhos das outras nações depois de ter perdido estatuto após a entrada dos Ingleses e Holandeses na "descoberta do mundo".


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